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Amélia

Sou mulher. Sou mãe. Sou avó.

Sou a Amélia Fresco.

A savana africana viu-me nascer, já lá vão mais de 6 décadas…

Os cheiros da terra côr de ocre, continuam bem dentro de mim.

Uma de muitas estórias ficou para contar.

O nosso empregado Baraka (benção em suaíli, dialecto que aprendi a falar), era um homem das multi-tarefas. Explicava que era abençoado porque tinha 3 mulheres e 13 filhos. Quando aparecia nas nossas fotografias, estava sempre torto, porque dizia que queria ter a certeza de ficar no retrato. 

  - Baraka, vai trabalhar. Faz a comida, limpa a casa e toma conta da menina – dizia-lhe a minha mãe.

Baraka, tudo cumpria em pensamento. Sentado numa cadeira a dormitar, de pano do pó no ombro, e perna esticada, abanava o meu berço o tempo todo. Era feliz. Nada mais importava para ele do que tomar conta da sua menina.

Em 1960, através da janelinha do avião, o meu olhar ficou preso na cidade de Bukavu e na imensidão dum continente ao qual não mais voltei.

O tempo voou…

Cresci, logo com vontade de ser professora e de passar aos outros o que sabia sobre tudo o que me rodeava. A curiosidade sempre me acompanhou, bem como a vontade de mudar e criar de novo.

Leitora sempre atenta, fui estimulando “os meus meninos” a encontrarem nos livros os seus melhores amigos.

Assim, já num tempo em que o tempo escolar parou, encontrei um novo caminho quando a Trupe Sénior do Chapitô me adoptou. Então, com ela, voltei a sentir o ímpeto de criar e de reviver a criança que dentro de mim sempre existiu.

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